“O empreendedorismo oferece a oportunidade de o jovem trabalhar com o que gosta”, diz Beto Moreira, presidente do Sehal
Ela, 15 anos e ele, 18. Essas são as idades que tinham os dois irmãos Mariana Jolt e Cauan Jolt (nome artístico) quando decidiram entrar no mundo do empreendedorismo há três anos. Hoje, ainda bem jovens, tocam o próprio negócio, o Café Caneca, no Bairro Baeta neves, em São Bernardo do Campo.
Para o Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC), o empreendedorismo jovem é interessante para qualquer mercado, traz um olhar inovador, mostra proatividade e fomenta a economia. “O empreendedorismo oferece a oportunidade de o jovem trabalhar com o que gosta, ser independente financeiramente e realizar um sonho”, diz Beto Moreira, presidente do Sehal.
A história da dupla Jolt é inspiradora. Se empreender no Brasil não é tão fácil, a tarefa para jovens com pouca experiência ou recursos se torna ainda maior.
Para colocar o projeto em prática, os irmãos tiveram o apoio dos pais que são empreendedores e têm negócio na parte de cima do sobrado onde fica a cafeteria, na Rua Itu, 370, Baeta Neves.
Mas, a inspiração veio mesmo da avó paterna, a dona Cleide, falecida em 2018. O que ela deixou para os meninos se tornou um legado que nem eles mesmos imaginavam que poderia ser transformador.
Os netos herdaram da avó Cleide um carro que ela já usava, um Fiat Uno, que na época era avaliado em R$ 15 mil.
Os dois contam que decidiram vender o carro e investir no próprio negócio. Com isso quiseram fazer uma homenagem à avó, que toda a tarde tomava café na caneca, conforme eles lembram. O recurso, entretanto, foi somado a outro que rendeu de um dom artístico da dupla.
Café e arte – Se não bastasse apenas o espírito empreendedor, os dois ainda têm o dom da arte, são cantores e fazem um trabalho paralelo na área há sete anos. Se apresentam em shows, festivais e de vez em quando dão uma palhinha na cafeteria.
Para complementar o valor do investimento, Cauan juntou o dinheiro vendido do carro com o que ganhou com um trabalho artístico. Há cerca de três anos, ele gravou um jingle com o cantor e famoso no cenário da música brasileira, Carlinhos Brown.
Foi assim, e com o apoio da família, que começaram. Reformaram uma garagem de uma casa, que estava velha, onde até hoje funciona o estabelecimento. Hoje, o Café Caneca tem capacidade para 32 pessoas, mas que no fim de semana atinge um público rotativo de cerca de 80 consumidores.
“Juntamos o dinheiro e investimos aqui”, disse Cauan. “O desafio se tornou uma realidade, que hoje amamos e que tem o propósito de acolher e levar amor através da nossa história. E, além de tudo, unimos a gastronomia com a arte e cultura, e que são conceitos que conectam e se complementam”, acrescentou Mariana.
Na época, nenhum dos dois tinha qualquer experiência. Decidiram fazer cursos intensivos de barista e gestão, que duraram seis meses. “Isso nos deu ideia para estudar cardápios e criar variações”, explicou Mariana. Inspirados nos famosos cafés parisienses, eles oferecem no estabelecimento cafés gourmets e gelados e lanches como o ciabata a la venesa. Atualmente, os dois são universitários, ela da área de Gastronomia e ele de Publicidade e Propaganda.
Além dos desafios naturais, os jovens enfrentaram todas as dificuldades que vieram com a pandemia. Disso, entretanto, tiraram um aprendizado. Obrigados a manter o estabelecimento fechado em função da crise sanitária, adotaram o delivery. “Agora consideramos que o sistema agregou ao nosso trabalho. Muitos clientes que não conheciam porque pediam para entregar, agora são frequentadores”, disseram.
Para os dois, desafio não é obstáculo. Já pensam em ampliar o investimento e abrir um novo estabelecimento. “Talvez para 2023”, finalizaram.